Apóstolo – A sanidade religiosa posta a prova | Review
Apóstolo, lançado em 2018 no serviço de streaming Netflix, chegou após um marketing onde era vendido como um filme de terror e horror, algo muito semelhante ao que vimos em A Bruxa, porém o que recebemos é algo um tanto diferente.
É claro que não é bom assistir a uma obra com expectativas próprias sobre o que você gostaria que fosse, mas quando isso acontece por culpa da própria produção e distribuição do filme, é algo mais complicado a se evitar.
O longa tem claros elementos de terror, porém não é sua atmosfera principal. Na verdade, o filme caminha por vários gêneros de maneira irregular o que acaba deixando sua narrativa não muito orgânica e desconfortável de acompanhar, como por exemplo seu primeiro ato que é arrastado e focado em um suspense que quase não progride tendo pequenas pitadas de terror em meio a isso, para depois ir direto ao horror, o que faz parecer que você está assistindo a um outro episódio de uma série.
Essa irregularidade poderia ser melhor digerida se o roteiro não pecasse em sua construção e desenvolvimento de personagens. O protagonista Thomas interpretado por Dan Stevens é sem sal e não nos cativa, o ator entrega a atuação sem muitas camadas somente com o que o roteiro pede, o que seria basicamente um homem amargurado com religião e com o objetivo de salvar sua irmã. O longa propõe também uma profundidade sobre a ilha e a comunidade que vive lá, mas peca nesse aspecto com seu primeiro ato arrastado e conclusão frenética, e no fim, acabamos não se importando com quase nenhum personagem, e as excessões são fruto de uma empatia por vermos os mesmos passando por brutalidades e afins, sendo apenas um fruto do instinto humano.
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O filme funciona também como uma metáfora de histórias bíblicas das quais não irei entrar em detalhes, e também presta críticas sobre obsessão religiosa e a corrupção do ser humano, e faz isso de maneira eficaz até certo ponto, pois não sairia tão prejudicado por consequência de todos os aspectos que citei.
A violência gráfica é bem horrorizante e desconfortável de se assistir assim como deve ser, os aspectos técnicos são bem positivos e fazem você se inserir naquele embiente, como a ambientação da época e da ilha sendo muito bem executadas, takes inteligentes de câmera fazendo ligação com simbolismos do próprio longa, e os efeitos gráficos bem palpáveis. A falha pra mim aqui está na trilha sonora, que é boa a primeira visa, mas usada de maneira extrapolada pelo diretor o que acaba acabando com momentos que poderiam ser bem mais sufocanes e desconfortáveis.

No fim, Apóstolo acaba derrapando em muito do que propõe, com críticas, metáforas, gêneros diferentes, tudo flutuando de maneira não orgânica, porém com algumas ressalvas que possam valer seu tempo para assistir e refletir sobre.